Livros populares que odeio #3: O Livro do Cemitério, de Neil Gaiman

Depois de falar do maldito YA Trono de Vidro e da bagunça (no mau sentido) que é Neuromancer, chegou a hora de falar de The Graveyard Book, livro de 2008 escrito pelo inglês Neil Gaiman. Uma medíocre decepção.





Título: The Graveyard Book

Título no Brasil: O Livro do Cemitério

Autor: Neil Gaiman

País de origem: Reino Unido

Data de Lançamento: 30 de setembro de 2008

Editora no Brasil: Rocco



    Esse foi o meu primeiro contato com a escrita em prosa de Neil Gaiman. Já tinha lido dois volumes encadernados de Sandman e gostado bastante. Trata-se de um escritor muitíssimo badalado. Encontrar alguém falando mal dele é raríssimo (nunca vi). Ele é simplesmente o autor mais vendido da Amazon Brasil. Tem séries e filmes dele saindo toda hora (inclusive Sandman). Esse livro ganhou todos os prêmios imagináveis e tem prefácio de Margaret Atwood, rasgando seda e dizendo que The Graveyard Book é absolutamente perfeito. Isso quer dizer que a minha expectativa estava lá em cima para lê-lo.

    E expectativa alta é osso.

    O livro conta a história de um bebê órfão que, após “fugir” do assassino de sua família, é acolhido por fantasmas de um cemitério próximo, que passam a criá-lo. Ele é inicialmente adotado por um casal, mas logo se relaciona com muitas outras almas, mortas em diferentes períodos da História.

    Como ninguém sabia o nome do menino, e ele não sabia falar, o nomearam Nobody Owens, ou Bod (no Brasil, ficou Ninguém Owens, ou “Nin”, mais um motivo para sempre ler as coisas no original).

Arte por Airahnn
  
 O menino vai crescendo e os problemas logo surgem. E, por “problemas”, eu me refiro aos problemas de narrativa, e não aos conflitos dos personagens.

    Bod, com cinco anos de idade, já fala de um jeito irreal. Só piora quando penso que ele foi criado por fantasmas mortos há séculos. Ele faz uma amiguinha: Scarlett Perkins, uma escocesa que se muda para aquela cidade. É estranho como Bod fala com Scarlett e a menina parece não notar o fato de ele ser desdentado, fedorento e falar um vocabulário datado.

    Porque é assim que alguém ficaria depois de anos morando em um CEMITÉRIO.

    Nada disso é tratado no livro. Sei lá, eu não esperaria que eles tivessem um spa cinco estrelas dentro de um cemitério de cidade de interior, mas, deveria ter alguma explicação para a criação do menino.

    As descrições do livro são ruins. Os parágrafos pequenos passam poucas informações. Com exceção à primeira cena (a do assassinato, que é muito boa, diga-se de passagem), todas as outras não ficaram muito vívidas em minha mente. Lendo em fóruns por aí, os entendidos dizem que esse livro é uma mistura de ideias que Gaiman já teve em outros e foi jogando lá, sem lógica.

    E até o capítulo quatro é a pior parte: é que esse foi o capítulo que Neil escreveu primeiro. O vem antes desse capítulo é só um prólogo que o autor teve de colocar para dar sentido à trama.

    Mas o problema é que não há senso de perigo. O tom que deveria permear todo o livro é que Jack Frost, o assassino, estaria procurando por Bod desde sempre. Então deveríamos ficar na expectativa de que ele fosse chegar a qualquer momento. Mas essa apreensão simplesmente não está presente. E, no clímax, o jeito que o assassino é derrotado é extremamente previsível. E isso era um elemento-chave do livro.

    E tem mais uma coisa. No final, quando Bod está efetivamente “criado”, ele é solto no mundo. E “solto” é a melhor palavra. O rapaz deveria parecer um animal. Ele quase não teve contato com pessoas vivas. Nem fala direito. Eu fico imaginando um menino de quinze anos, sem nenhuma educação formal, desdentado, sarnento e sem documentos andando por aí. E pior: sorrindo porque acredita estar bem-educado. Parabéns aos envolvidos.


    Devo dar uma colher de chá: The Graveyard Book é um livro para crianças. E eu não sabia disso quando li. Fui com Sandman na cabeça. Talvez devesse ter ido com Coraline na cabeça? Não sei. Só sei que foi o livro errado na hora errada, com a expectativa errada.

    E por esses motivos, devo dizer que amo os quadrinhos de Neil Gaiman, mas odeio sua prosa.

[ATUALIZAÇÃO] Li Coraline também. É ruim.


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