Livros Populares que Odeio #4: Os Sete, de André Vianco

Após falar de três livros gringos, todos oriundos de países de língua inglesa (Estados Unidos, Canadá e Inglaterra), estava mais do que na hora de deixar de lado o complexo de vira-lata e falar sobre um livro brasileiro, com uma narrativa tipicamente tupiniquim. Mas será mesmo? Vamos descobrir.


Título: Os Sete
Autor: André Vianco
País de origem: Brasil
Ano de Lançamento: 2000
Editora no Brasil: Independente; Novo Século; Rocco

Este é o segundo livro de André Vianco (o primeiro foi O Senhor da Chuva), publicado de maneira independente. A história do autor já é muito conhecida. Mas, para quem não sabe, vou resumir. Vianco era operador de telemarketing, pediu demissão e, com o dinheiro do FGTS, bancou a impressão do livro. Ele foi de livraria em livraria para vender e também para pedir ao gerente que oferecesse o livro aos adolescentes e jovens adultos que entrassem na loja. Deu certo. Por isso, ele é tido como um exemplo para os autores independentes atuais. 

Hoje, ele é dono da agência Vivendo de Inventar (tem um tal de Wolfpack também, mas não sei bem o que é), é bem ativo nas redes sociais e publica até livros infantis. Ele também aparece muito em eventos e dá cursos pelo Brasil. Eu mesmo já estive em um, no Rio de Janeiro, no final de 2019. Foi bem legal.

 E foi justamente por causa desse curso que eu li Os Sete. Por se tratar de um dos primeiros livros de Vianco, dá para entender os erros. A saber: a escrita imatura e a falta de edição. E eu falo da edição impiedosa, estilo kill your darlings, de sair cortando tudo. Metade do livro deveria ter ter sido cortado. Metade das descrições, metade dos personagens… Tudo. O conteúdo de suas quatrocentas páginas funcionariam muito melhor em duzentas. Ele gastou todo o dinheiro com impressão, então não deve ter sobrado nada para editores e leitores críticos. Mas eles teriam sido muito bem vindos. 

Os Sete parece um roteiro sem formatação. Tudo é muito contado, ao invés de mostrado. Logo no início, após um pequeno diálogo entre o protagonista e seu amigo, temos um infodump do passado deles. Como já falei aqui, odeio isso em livros. Não se passa nem duas páginas e já temos um flashback!

O livro se inicia com os protagonistas achando o barco dos vampiros portugueses no fundo do mar. Mas logo que a cena começa há um flashback, dizendo como eles vieram parar ali, naquela cidadezinha do Rio Grande do Sul, etc. Também diz que eles são sete amigos que cresceram juntos. Ah, agora eu entendi: a intenção aqui é colocar os os setes amigos versus os sete vampiros. Faz sentido. 

Então por que isso é abandonado logo depois? Retiro o que disse.

Fonte: Sucker for Vampires

O principal apelo do livro é se passar no Brasil e ter sido escrito por um brasileiro, que o publicou de maneira independente e conseguiu o sucesso. Mas, apesar de ter como cenário o sul/sudeste do Brasil, a trama é hollywoodiana. A luta do exército contra os vampiros é uma narrativa bastante americanizada. Por isso, digo que o livro é objetivamente ruim, independente de opinião.

A escrita não tem cadência. Não é só a poesia que deve ser melódica, mas a prosa também tem que ter um ritmo de leitura agradável. E Os Sete tem parágrafos recheados de frases curtas, que mostram todas as ações dos personagens. Chega a ser hilário. Veja: 

“Ele abaixou a cabeça. Viu uma caixa. Abaixou-se. Pegou-a. Levantou-se. Abriu-a. Viu o que tinha dentro.” 

(algo mais ou menos assim. Não me lembro bem). 

Os personagens são clichês. Dos militares aos vampiros, tudo o que eles fazem e dialogam remete aos mais óbvios estereótipos. Nada é inesperado. Ah, e falando em diálogos, eles são os piores possíveis. Simplesmente não dá para identificar os personagens pela fala. Fazendo o exercício de cobrir seus nomes, só saberíamos diferenciar os portugueses dos brasileiros. E só porque os portugueses falam “tu estás, pá!”. 

E esse negócio do personagem de um tempo diferente (centenas ou milhares de anos) acordar no presente e achar tudo estranho é clichê e chato. Tem uma cena em específico que os vampiros acham caixas de calças jeans da marca Fórum. Então eles acham que "Fórum" é o fórum de justiça. E não conseguem pronunciar "jeans" direito.

(...)


(...)

VELHOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!

Pra cima de mim, velho? Porra...



"Raul Seixas" é o verdadeiro vampiro brasileiro.

Os problemas na edição também são visíveis na repetição de palavras. Por exemplo, a frase “continuaram caminhando por…” aparece pelo menos umas dez vezes. 

Balançar ou menear a cabeça em sinal positivo ou negativo aparece quase vinte vezes. 

A palavra “mente” aparece mais de 40 vezes. Isso inclui balançar a cabeça positiva ou negativamente (o que influencia na cadência) e coisas como  “c imagem não saía de sua mente” ou “sua mente iluminou-se”. 

Mas o campeão são as palavras relativas a “caminhar”. Não sei se o autor é fã desse exercício. Acho que ele caminhava todo dia antes de escrever. É a única explicação razoável que encontrei para o fato das expressões como “continuaram caminhando”, “começou a caminhar”, “caminho”, “caminhou”,  “após alguns minutos de caminhada” ou “pôs-se a caminhar”  aparecerem cerca de... 240 VEZES!

Isso dá mais do que uma vez a cada duas páginas! Sério, eu quase peguei o livro e levei para a academia, só para ficar lendo na esteira… CAMINHANDO! 

Eu não estou brincando. Eu contei. Quem duvidar, pode ir contar também.




Como todo livro famoso, tem seus méritos. A ideia é boa, só é mal executada. As cenas de   Lobo (um vampiro chamado Lobo, que na verdade é lobisomem) e a cena final são memoráveis (apesar de muito hollywoodianas). Acredito que os livros mais recentes sejam melhores, tanto pelo fato de terem sido editados profissionalmente, quanto pelo fato de o autor mesmo ter maturado. Mas eu vou demorar para lê-los. Primeiro, porque li muita coisa de vampiro no primeiro semestre e estou um pouco de saco cheio do assunto. Segundo, porque, após ler um livro desses, simplesmente dá preguiça de ler mais alguma coisa do mesmo autor.

É isso meus amigos. Apesar de tudo, continuemos caminhando sob a luz do sol de Osasco, balançando as cabeças positivamente. Se chegar a ver uma caixa no chão, abaixe-se lentamente. Pegue-a. Levante-se. Abra-a. Independentemente do que estiver dentro dela, tenha sempre coisas boas em mente. Coma cachorro-quente. O destino reserva coisas boas pra gente.

NÃO SE ESQUEÇA DE SE INSCREVER!

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