Review #8: Love, Death & Robots Volume 3

 O terceiro temporada volume de Love, Death & Robots estreiou na Netflix no dia 20 de maio de 2022. Tem nove episódios, dois dos quais são "sucessores espirituais" de outros episódios, e um é uma continuação. 



Gostei muito desse volume. Ri muito, me senti tenso e repeti os mesmos episódios várias vezes. Assisti tudo no mesmo dia e não me arrependo. Diferente dos outros volumes, não cheguei a odiar nenhum episódio. Gostei tanto que fui atrás dos contos que originaram os meus episódios favoritos, e já os li. Realmente, eles acertaram a mão.

Abaixo, a review episódio por episódio:


Os três robôs (The Three Robots: Exit Strategies)

Continuação de um episódio do primeiro volume, segue a história de um trio de robôs perambulando por um planeta terra devastado por um apocalipse das máquinas, e que estão planejando criar uma sociedade de robôs. O trio é carismático: são burros, exceto por lerem artigos na Wikipédia; e fazem piadas o tempo todo.

O episódio é dividido em três partes. A primeira é a dos sobrevivencialistas, que foram burros e acabaram caçando todos os animais. A segunda é a dos milionários da tecnologia, que fugiram para estações de petróleo desativadas, mas, por terem quase tudo operado por robôs, esses mesmos robôs os mataram. E a terceira é a dos super ricos, que tentaram fugir para Marte, pouco se lixando para os mais pobres.

Estava pronto para reclamar de como John Scalzi (autor da estória que deu origem a esse a a outros episódios) tratou os sobrevivencialistas, mas percebi que ele falou mal de todo mundo—de todo mundo mesmo!—, então fiquei mais de boa. A ideia era provocar e criticar as pessoas mesmoe funcionou.

O subtítulo original desse episódio (que, por um motivo desconhecido, foi retirado da versão traduzida) diz respeito às estratégias que os humanos se utilizaram para tentar fugir do "robôcalipse". Não sei por quê, mas os tradutores brasileiros sempre gostam de ferrar com tudo.

O final é um plot twist que funciona muito bem se você assistiu ao primeiro episódio. Como Aristóteles falou na Poética, o final deve ser inesperado, mas, ao mesmo tempo, inevitável. É bizarro? É. Mas também não poderia ser outro. E por isso funciona.


Noite dos Mini-Mortos (Night of the Mini Dead)

"Uma transa profana no cemitério acaba mal e dá início a uma praga mundial de zumbis. É o apocalipse mais fofo que você vai ver na vida!"

Tem sinopse melhor do que essa?



É uma animação em stop-motion, com enquadramento visto de cima parecido com um RPG em turnos. Lembrou bastante de XCOM, Age of Empires e outros games com "bonequinhos".

Não há muito o que comentar aqui. A transa em um cemitério amaldiçoa os mortos, que voltam à vida e cria o apocalipse zumbi. É o episódio mais curto do volume, com apenas 7 minutos no total. É engraçado e escrachado, com aquele humor brutal típico da série. Tem várias referências a filmes clássicos de zumbi espalhadas, como os caras atirando de cima de um caminhão (Zumbilândia) e os zumbis correndo perto da torre Eiffel (cena final de Extermínio). Quase não tem fala. Só escutamos algumas vozes abafadas, pois estamos "longe" dos personagens.

Também não há muito o que filosofar. Essa série, embora conhecida por isso, também têm muitos episódios que são pura diversão. Se insistir, você ainda consegue tirar uma liçãozinha: "Não profane cemitérios!" Mas nada mais.


Sepultados na Caverna (In vaulted halls entombed)

No Oriente Médio, soldados da Delta Force tentam libertar reféns em uma caverna, mas se deparam com um Mal (com m maiúsculo) preso lá.

Primeira coisa: o título, mais um vez, não foi traduzido da melhor maneira. O título original não diz respeito aos soldados que estão entrando na caverna, mas ao Mal que está lá dentro. Isso se perde na tradução.

Mas esse foi o meu episódio favorito do Volume. É uma mistura de sci-fi militar com horror cósmico. É também um tipo de estória que gosto muito: soldados de elite se ferrando. Não, eu não tenho nada contra eles; acontece que isso faz a estória ficar mais assustadora. Se um esquadrão de elite, armado até os dentes e treinado, não consegue fazer nada, o que você, que mal corre um quilômetro, faria no lugar deles? Tem dois filmes que fazem isso bem: Baskin e Dog Soldiers. Eu gosto porque, na maioria das estórias de horror, os protagonistas são adolescentes burros ou, pelo menos, civis comuns, então eles já não podiam fazer nada contra o vilão de qualquer jeito.




Esse episódio é ótimo, mas a adaptação acabou por colocar algumas cenas imprecisas tecnicamente. Eu falo do ponto de vista militar. Por exemplo, tem uma cena em que o sargento mata dois soldados inimigos a muitos metros de distância usando um rifle de assalto, de pé, conversando, e com um tiro só. Como se fosse fácil, né? Atirar em condições favoráveis já é difícil, imagine em uma situação tensa daquelas, em que você acabou de fugir de baratas cósmicas comedoras de humanos, e com uma arma de médio alcance ainda por cima.

A animação é aquela ultrarrealista feita com captura de movimento. Christine Serratos, de The Walking Dead, é a atriz mais reconhecível.

O final é muito bom, mas, assim que vi, pensei: "só funciona porque é audiovisual;  em prosa seria considerado preguiçoso." 

Por isso, fui atrás da estória original. Ela foi publicada em uma antologia de sci-fi militar, e eu a achei de graça, na Amazon. O final é melhor no conto. É mais assustador e permanece com você. E a escrita é mais precisa, militarmente falando. Claro, escrever sem precisão não teria espaço em uma antologia especializada. 


Ratos de Mason (Mason's Rats)

O fazendeiro Mason percebe que tem um problemão com ratos quando eles começam a atirar de volta. Ele contrata serviços high-tech para matar os bichos, o que acaba por ser overkill.

O protagonista tem sotaque escocês no original, então assista legendado. Se já assistiu dublado, assista de novo. Eu ri alto quando ele falou "Christ on a Bike!" mas achei merda o "Jesus de bicicleta!" da versão dublada.

Mais um episódio diversão pura.


Viagem Ruim (Bad Traveling)

Um grupo de pescadores é feito refém por um crustáceo gigante que invade seu navio.

Esse episódio foi dirigido pelo próprio David Fincher, e é um dos melhores de toda a série. É tenso demais. Do início ao fim, você sente a tensão. É um mundo bastante cruel, com personagens que não pensam em ninguém além de si mesmos. Há plot twists. A animação também é ótima.

Logo de cara, encontrei uma falha no worldbuilding. No início, quando o crustáceo gigante invade o navio, eles gritam "thanopod!" (mostrando que eles conhecem o bicho), mas começam a ataca-lo com arminhas ineficazes, como machados e facões. Ora, eles deveriam estar preparados. Eles deveriam ter armas capazes de matar ou incapacitar o bicho, ou, pelo menos, deveriam ter fugido. Pular para a morte foi estranho e impreciso do ponto de vista do worldbuilding.

O episódio tem o mesmo tom sombrio e frio dos filmes do diretor. Pense em Se7en (1995) e terá uma boa ideia da atmosfera desse episódio. 


O mesmo pulso da máquina (The very pulse of the machine)

Duas astronautas sofrem um acidente enquanto exploram uma lua chamada Io. A protagonista, com a mochila de oxigênio danificada, tem que carregar o corpo da parceira com uma mangueira acoplada. Por ter que caminhar por vários quilômetros, ela vai aplicando drogas no corpo, o que faz com que ela tenha alucinações. 

Essa premissa lembrou-me bastante de Swiss Army Man (2016) e Cargo (2017), e o surrealismo das visões lembrou-me do episódio dos dois caras no deserto do volume 1.

Tem imagens muito bonitas e até tenta ser reflexivo, mas não consegui me engajar na história de jeito nenhum.


Matança em grupo (Kill Team Kill)

Um pelotão de soldados americanos no oriente-médio tem que enfrentar um urso robótico feito pela CIA que acabou se rebelando.

Esse episódio é sensacional. Engraçado demais. É tiro, porrada e bomba para todo o lado, com direito a muito rock-and-roll e palavrões. Ah, e muita testosterona. A primeira cena é literalmente um cara mijando na câmera (ou seja, na nossa cara), sem vergonha de mostrar o pinto.

Encontrei mais um problema com a precisão militar aqui: torniquete, ou, mais precisamente, a falta de um. Um dos soldados tem a perna arrancada e, apesar de ainda conseguir conversar (e fazer piada besta), já é dado como morto. Pô, põe um torniquete no cara!

É muito parecido com o episódio do Drácula do Volume 1. Até o final é praticamente o mesmo. E também não tem nada para filosofar aqui. É só diversão e mais nada. 

E por que alguém em sã consciência iria querer algo a mais?


Enxame (Swarm)

Muito anos no futuro, um doutor (não sei se médico ou acadêmico, provavelmente acadêmico) entra em uma colônia alienígena visando levar uma amostra de volta para a Terra. A rainha da colônia pode produzir qualquer tipo de organismo, a depender da necessidade, e ele quer replicar isso na Terra.

Lembra bastante Avatar, no começo, mas tem um twist e uma pegada bem mais dark.

Rosario Dawson, uma das minhas atrizes favoritas, faz a voz de uma personagem.

Tem um final repentino que eu gostei muito.

Fazendeiro (Jibaro)

Colonizadores espanhóis se deparam com uma criatura mítica que os leva à morte com seu canto, mas um dos cavaleiros, que é surdo, está disposto a lutar contra ela.

É o que mais chama a atenção no trailer e, com razão, o queridinho da crítica.

O título se refere ao termo porto-riquenho para o fazendeiro de agricultura de subsistência, mas que também é utilizado por trabalhadores da cidade grande

Não conheço a criatura mítica, mas me parece uma espécie de sirene ou sereia dos porto-riquenhos, e o cavaleiro puxando seu ouro simboliza a Espanha tirando o ouro do país.

Talvez um dos melhores e mais significativos de toda a série. Com estória original, foi escrito e dirigido pelo mesmo diretor de A Testemunha, do Volume 1, e os dois personagens principais têm o mesmo design do outro episódio.

A direção é bem maluca, com enquadramentos estranhos. O personagens dançam como se fossem bonecos. E não há diálogo, pelo menos não falado.

Conclusão

Falar de Love, Death & Robots é chover no molhado. Uma excelente série, que eu espero que ainda continue por muitas tempora... digo volumes, e que sonho em ter uma estória minha adaptada por ela um dia!

Em resumo, os títulos poderiam ter sido melhor traduzidos. Chamo a atenção para a dublagem: com todo respeito aos dubladores brasileiros, veja no original. As piadas funcionam melhor, e alguns personagens têm sotaque estrangeiro.

O Volume 3 é um dos melhores. Muito viciante. Já assisti muitas vezes. Só não gostei muito de "O mesmo pulso da máquina", mas não cheguei a odiar: ele tem seus méritos. É um volume bem tenso, mais focado no terror. Mesmo em episódios com comédia, a comédia é um verdadeiro terrir.

Recomendo bastante, e fico no aguardo do próximo!


Comentários

Postagens mais visitadas